domingo, 5 de julho de 2009

Despertar dos Mortos(Dawn of the Dead)


Dos cinco filmes que George Romero dirigiu marcando a filmografia do terror com mortos-vivos, contribuição inestimável do diretor ao gênero e ao cinema desde 1968, “O Despertar dos Mortos” talvez seja o mais rico em leituras e permanência. Ele pode não ter o ineditismo e todo o background aterrorizante de “A Noite dos Mortos Vivos” (não exatamente o terror gráfico, mas o terror sugerido de estar preso em uma casa no meio do nada, à noite, com um exército de zumbis cercando a casa ) nem a violência visual de “O Dia dos Mortos”, apenas para ficar na trilogia clássica. Mas “O Despertar dos Mortos” transcende em tantos pontos o que se vê na tela que acaba se tornando, acreditem, um retrato de época que, passados mais de 30 anos, continua atual. Quantos filmes conseguem isso?

“O Despertar dos Mortos” não é, exatamente, um filme de terror no sentido pleno da palavra. Não há o medo explícito, o susto. Há, isso sim, o medo de estar se olhando no espelho quando se expande o universo habitado por um grupo de sobreviventes, um exército de mortos e um imenso shopping center. Esse pequeno núcleo transforma-se no todo de qualquer sociedade moderna atual. A maneira como Romero nos bestifica tal qual seus zumbis soa deliciosamente irônica e surpreendente.

“Por que eles vêem aqui?” pergunta um dos dois policiais que acompanha dois jornalistas numa fuga de helicóptero enquanto o mundo é assolado por legiões de mortos-vivos, em uma continuação direta do clássico de 1968.

“É instinto. Devem lembrar de algo, esse lugar deve ter sido importante em suas vidas” responde outro membro do grupo. Abaixo deles, zumbis bestificados, lentos, “animais movidos a instinto” movem-se como idiotas no Shopping, sobem escadas rolantes, vagam a esmo, batem de cara em vidros de lojas, nada muito diferente do que faziam quando tinham inteligência. A comparação é até assustadora. O grupo de sobreviventes, por sua vez, encontra no shopping sua própria versão do éden, com lojas, bancos e supermercados à disposição para brincarem de consumistas, movida pelo sonho de consumo: a impunidade aos seus atos, a liberdade de se pegar o que quiser na meca do capitalismo. Nesse paraíso, o dinheiro perde valor. Os sobreviventes poderiam viver eternamente em seu refúgio, sem precisar sair, se relacionar, encontrar outras pessoas (ainda mais com rádio, fliperama e televisão ).

Romero sempre usou os filmes de sua série como metáforas à sociedade, críticas mordazes a estilos de vida e comportamentos. Seus mortos-vivos sempre representaram mais do que simples bestas comedoras de carne humana. Em mais de uma oportunidade, “O Despertar dos Mortos” nos diz que os grandes culpados pelo caos social não são os zumbis, mas os homens racionais. É um confronto de homens contra homens que começa o filme – uma seqüência de pequenas cenas que compõem um quadro literalmente animal de caos urbano e racional. E são os homens quem, ironicamente, acabam com o paraíso do pequeno grupo, abrem as portas ao exército de mortos, assinam a própria sentença de morte, movidos pela selvageria e a impunidade.

O máximo dessa declaração de ironia de Romero surge na trilha ora alegre, ora irônica, completamente distinta daquela que se espera de um filme de terror. Surge como um canto tribal quando o grupo se prepara em uma loja de armamentos. Torna-se quase infantil ao mostrar zumbis em escadas rolantes. Alcança seu ápice ao mostrar caipiras e militares encarando o caos como um alegre acampamento de verão, movido a churrasco e tiro ao alvo nos zumbis que surgem no horizonte. A sociedade é animal, somos mais canibais do que pensamos, principalmente em grupo. O maior terror de “O Despertar dos Mortos” não está na maquiagem extremamente simples ou nos efeitos visivelmente limitados em alguns momentos, mas no alcance assustador das entrelinhas da história de Romero. E esse tesouro não está disponível para todos os filmes.

Trailer do Filme


Download do Filme

Título Original: Dawn of the Dead
Gênero: Terror
Qualidade: DVDRip
Formato: Rmvb
Áudio: Inglês
Legenda: Português

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