sexta-feira, 26 de junho de 2009

A Mosca


David Cronenberg já era cultuado por uma pequena parcela de admiradores quando foi contratado, pelo belo salário de US$ 1 milhão, para dirigir “A Mosca” (The Fly, EUA/Canadá/Inglaterra, 1986), refilmagem de uma ficção científica classe B de 1958. Muita gente não entendeu. Ficava a dúvida: como é que um cineasta obscuro, amante de narrativas labirínticas, climas oníricos e experiências de desconstrução do corpo humano, iria se sair no comando de um blockbuster? A resposta veio com um longa-metragem esquisito, perturbador, que mostrava ser possível fundir um enredo simples e funcional com imagens grotescas de impacto, e ainda manter intactas algumas características autorais.

A presença de Cronenberg no comando da produção, de fato, não foi uma escolha óbvia da Fox. O diretor canadense, que faz uma ponta como um ginecologista, era considerado uma aposta quente em Hollywood, mas na época negociava a direção de “O Vingador do Futuro” (que seria feito alguns anos depois, com o holandês Paul Verhoeven no comando). Curiosamente, foi o comediante Mel Brooks quem atuou como produtor, conseguindo persuadir Cronenberg a aceitar o trabalho. Depois, com o filme já pronto, Brooks pediria para ser retirado dos créditos iniciais, pois acreditava que a simples presença do seu nome faria o público pensar que o filme era uma paródia cômica, o que poderia resultar em risos involuntários e fracasso de bilheteria.

A grande sacada de Cronenberg, que reescreveu completamente o roteiro de Charles Edward Pogue, foi utilizar a jornada trágica do cientista solitário Seth Brundle (Jeff Goldblum) como uma metáfora inteligente para a AIDS, que começava na mesma época a se alastrar. Mesmo assim, a degeneração física irreversível do protagonista, que começa justamente após um ato irresponsável durante uma bebedeira, podia ser lida como uma interpretação preconceituosa do drama da doença, que então afetava principalmente o público homossexual. Cronenberg sofreu algumas críticas por causa disso, mas o tempo mostraria que o diretor canadense nada tinha de conservador.

A história é uma variação sci-fi do arquétipo da Bela e da Fera. Brundle é um típico cientista, daqueles que mantém sete ternos idênticos no armário para não ter problemas na hora de escolher o que usar numa ocasião solene. Veronica (Geena Davis), por sua vez, também é uma jornalística típica de Hollywood, uma mulher ambiciosa e batalhadora. Os dois se conhecem numa festa, e ela decide acompanhar o progresso do trabalho de Brundle, que inventou uma máquina capaz de teletransportar objetos inanimados, mas ainda não consegue fazer o mesmo com seres vivos. Eles se apaixonam e iniciam um tórrido romance, interrompido depois que o cientista faz uma experiência de teletransporte consigo mesmo, após uma briga, carregando sem saber uma pequena mosca, cujo DNA se funde com o dele.

A partir daí, o filme envereda pela seara do horror fantástico, com um brilhante trabalho de maquiagem (Jeff Goldblum passava até cinco horas por dia nas mãos dos maquiadores) e muitas imagens grotescas, uma especialidade de Cronenberg. O resultado final, embora eficaz e assustador em muitos momentos (a saída com a prostituta, o bebê-mosca), não chega a ser tão bom quanto os melhores trabalhos autorais de Cronenberg (“Existenz”, “Videodrome”). Mesmo assim, o canadense deve ser respeitado por conseguir inserir elementos autorais dentro de uma grande produção, algo não muito comum. É preciso observar, também, que o diretor jamais se aventurou novamente a trabalhar em Hollywood, preferindo trabalhos independentes, com narrativas mais arrojadas. Sujeito inteligente.

Trailer do Filme

Download do Filme

Título Original: The Fly
Gênero: Ficção Cientifica
Qualidade: DVDRip
Formato: Rmvb
Áudio: Inglês
Legenda: Português

Nenhum comentário:

Postar um comentário